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POR QUÊ: ANATOMIA DE UM BAIRRO

Verticalização do Bairro Atalaia: Uma Ameaça Concreta 

O bairro Atalaia que antes era apenas uma aldeia de pescadores, ganhou o status de bairro de veraneio pela sua proximidade da zona litorânea de Aracaju, isso acabou atraindo as primeiras famílias de classe média alta da época que vislumbravam na velha aldeia um potencial local para construções de veraneio. As potencialidades do Bairro atraíram então as primeiras residências fixas e logo após isso a localidade ganha a primeira orla urbanizada do Nordeste.

 

Até o início dos anos 1990, apenas algumas empresas se aventuravam a construir às margens do Rio Sergipe. Naquela época, apenas sete edifícios faziam parte da paisagem. Somente em meados da mesma década é que o boom ocorreu com o surgimento de prédios de alto luxo na Avenida Beira Mar. Hoje, o aumento na quantidade de prédios litorâneos é de em média quatro novos empreendimentos prontos por ano. Segundo pesquisa do IBGE sobre o avanço da verticalização no país, Aracaju alcançou no período de 2000 a 2010, 18,8% de procura por apartamentos, com esse aumento, natural que se aumentem as ofertas. É justamente nesse ponto que apostam as construtoras. Sergipe representa um mercado em potencial crescimento, esse fato se deu principalmente pelo ascenção social, ou seja, a nova classe média que adquiriu poder de compra e posição de disputa no mercado imobiliário. 

 

Nos últimos quatro anos foram aprovados a construção de 45 condomínios verticais somente no bairro Atalaia, onde fica a praia que é o principal cartão-postal da cidade.Se de um lado o crescimento vertical é importante para a indústria da construção civil e para o setor imobiliário, do outro, provoca transtornos. O grande número de edificações acaba formando ilhas de calor, bloqueando a passagem do vento. Com isso, numa temperatura de 32 graus, a sensação térmica em determinados pontos da capital chega a 35 graus. E os mais prejudicados são aqueles que moram em bairros cercados por prédios. Sobre o fenômeno da verticalização Álvaro Carvalho morador do bairro e consultor técnico especialista em mobilidade e aglomerado urbano de Aracaju diz que a princípio a aeronáutica proibia a construção de edifícios com muitos andares, por causa do farol que indicava aos navios que havia terra firme, logo depois foi o aeroporto da capital que continuou a proibir esse tipo de construção, ele destaca ainda que embora talvez não alcance essa época, mas por falta de um planejamento urbano isso venha tornar-se uma balburdia. Como já pode ser visto na Avenida Beira Mar e bairro 13 de julho, onde prédios de até 12 andares foram erguidos prejudicando a ventilação dos bairros que ficam atrás.

 

Senhor Álvaro conta que seus estudos de planejamento urbano de toda Aracaju feitos em 1982 previam a zona de expansão e a ideia para a toda avenida Beira Mar era a seguinte: "Construir prédios de alturas crescentes, ou seja, na frente seis andares, duas ruas para trás oito, mas duas ruas após 10, outras duas adiante 12, uma escala ao contrário do que se vê hoje, para fazer o vento circular, mas isso nunca foi feito, pois ele afirma que quem sempre mandou na politica do estado foram as Construtoras. De acordo com ele ‘’Hoje ao passar por lá vemos um muro, prédios com 12,13, 14 andares, quem mora atrás sofre com o calor e não tem visão de nada. Existe um perigo de na atalaia acontecer o mesmo. Já tem  prédio aqui com 12 andares, sem planejamento e sem suporte de saneamento para receber os dejetos que serão gerados pelos novos empreendimentos.

No final do ano de 2014, o juiz Ronivon Aragão, da 2ª Vara da Justiça Federal em Sergipe, declarou inconstitucionais as leis municipais que permitem a construção de edifícios com mais de 12 pavimentos na capital sergipana. O juiz classifica como inconstitucionais as leis complementares de número 74 e 75, aprovadas pela Câmara Municipal de Vereadores no ano de 2008, e também a de número 132, criada neste ano com o aval dos vereadores de Aracaju.

 

Conforme informações inclusas no processo judicial, estas leis tratam de normas urbanísticas, de uso e ocupação do solo e repercutem no Plano Diretor e foram consideradas inconstitucionais porque não foram debatidas com a população, antes de ser colocada em pauta na Câmara de Vereadores. “Deveriam ter tido ampla participação da sociedade civil organizada e serem antecedidas de audiências públicas, aspectos esses inobservados”, pondera o magistrado na decisão judicial. Como consequência das distorções no plano diretor da cidade, a Atalaia e a Zona de Expansão se tornaram as regiões mais cobiçadas pela especulação imobiliária, localidades onde se encontra o metro quadro mais caro da capital sergipana. Os moradores mais antigos não escondem a preocupação com o grande número de arranha-céu, que está surgindo na região e modificando a bucólica paisagem da orla marítima de Aracaju.

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